O lance do tiroteio, da indiferença, da sorte...
Morar no Rio tem dessas coisas... a gente fica sabendo horas depois que rolou um tiroteio horroroso, pertinho de onde estamos a maior parte do dia - no trabalho - e nós nem nos demos conta. E ninguém fica preocupado, tenso, apreensivo ou frustrado porque a violência é algo absurdo na Cidade Maravilhosa, paraíso turístico e lar da marginalidade. Apenas surgem comentários como "é que todo mundo fala tão alto aqui dentro que nem ouvimos nada". Claro que não tô criticando o comentário porque, de fato, se já aconteceu e ninguém ao nosso redor, ninguém da nossa convivência foi prejudicado ou ferido diretamente no ocorrido, não há real motivo para choro. É o "cada um por si" que gira o mundo... e só de não fazermos mal a outros, já estamos fazendo nossa parte. Portanto, podemos nos sensibilizar, mas sem exageros porque morar no Rio é assim mesmo. Isso foi no meio da tarde.
Final do dia, eu estava indo embora... Ainda no elevador do prédio, tocou o meu celular. Era uma pessoa que estava me procurando desde ontem, mas eu não pude atender pois passei o dia em reunião. Algo sobre uma vaga numa empresa. Parêntese rápido! (Claro... agora que consegui emprego, surgem várias oportunidades). Eu saí do prédio falando ao telefone e andando rapidamente, na minha longa caminhada até o metrô. São uns 15 minutos... mas de salto alto, em calçadas de pedrinhas portuguesas, parecem uma eternidade e os últimos respiros dos saltos que se engancham no chão uma infinidade de vezes. Mas então, logo na segunda quadra, em plena Av. Nossa Senhora de Copacabana, dei de cara com um trânsito mais tumultuado que o normal, meio mundo olhando e falando e montes de policiais, carros de polícia, luzes piscando, sirenes... uma bagunça... e eu no celular. Olhei pro lado e vi lá no chão os vários corpos meio cobertos. Putz... que coisa horrível! Mas nem chocada ou assustada ou sei lá... nada senti. Só o que pensei foi: "hmm... ainda não tiraram... que droga. Tenho que sair daqui porque ainda pode ter alguma confusão."
Chega a ser estranho usar palavras de alegria quando se comenta um assunto que certamente é um problema sério do país... mas é impressionante (e esquisito) como a gente aprende a ser indiferente ao que acontece de ruim com quem não temos alguma ligação afetiva, seja pessoal ou profissional, porque é a única forma de continuar vivendo, levando a vida, morando, trabalhando, etc. E com tudo isso acontecendo tão perto de mim... eu só conseguia ficar feliz porque o dia de trabalho foi ótimo! porque no meu nono dia de trabalho eu começo a me sentir por dentro do meu trabalho! porque o meu ticket restaurante chegou e agora é um cartão magnético (coisa que nunca tinha usado)! porque almocei com uma amiga que fez pra mim uma homenagem no dia da formatura da faculdade, mas que eu não via há uns dois anos por excesso de trabalho e falta de vergonha na cara por me permitir trabalhar demais da conta! porque amanhã vou viajar para ver minha família!
Foram 2 mortos, 5 pessoas feridas... isso de acordo com uma nota divulgada pela PM, às 20h52 de hoje, publicada no Globo Online. O "assaltante" causador de todo o tumulto morreu na Av. Atlântica, 1440!!! É muito, muito perto de onde eu trabalho. O cara já tinha ficha criminal de acordo com outra notícia publicada mais cedo. E eu leio isso apenas pensando na sorte de não ter passado no meio do tiroteio, de estar a salvo em casa, de estar escrevendo no meu blog. E o mais impressionante? Ainda amo o Rio e não consigo, no fundo do coração, imaginar sair do Rio para morar em outro lugar. Talvez um dia! Talvez por um motivo que hoje não existe na minha vida! Talvez...
NOTÍCIA DO "O DIA ONLINE" - 6/4/2006 18:22:00
Dois mortos e cinco feridos em tiroteio em Copacabana
Rio - Tiroteio envolvendo policiais e um bandido na Avenida Atlântica, 1440, ao lado do Bar Flor do Lido, deixou dois mortos e cinco feridos, e provocou pânico no local. O ladrão e Antonio Carlos de Oliveira Dias, morador de Nova Iguaçu, que estava com sua esposa no bar, morreram no local. O ladrão entrou no prédio fingindo estar interessados na compra de um computador, anunciado na Internet. Subiu para o apartamento e rendeu um homem, que conseguiu escapar e chamar a polícia.
Houve troca de tiros dentro e fora do edifício. O policial Augusto Alexandre Pinheiro Junior, de 23 anos, foi baleado na cabeça dentro do prédio. O soldado Robson Leão caiu, lesionando a coluna.
O ladrão conseguiu escapar. Na fuga, conseguiu render um taxista, que teve o carro interceptado pela PM na esquina das ruas Nossa Senhora de Copabana com Prado Júnior. Houve novo tiroteio e o ladrão foi morto com cinco tiros. Outras quatro pessoas foram feridas.
O policial ferido no prédio está em estado grave no Hospital Copa DOr. O soldado também foi levado para o mesmo hospital. Outros quatro feridos por balas perdidas foram para o Hospital Miguel Couto. São eles, o garçon Bráz Arantes Dias, 62 anos, que levou um tiro na cabeça e está sendo operado; Edith Félix de Oliveira, 30 anos, com um tiro nas costas, em observação; João Medeiros, de 69 anos, que levou um tiro de raspão no peito e já foi liberado; e o morador de rua Way Gland Siqueira Cândido, com um tiro na perna.
Por volta das 17h, o trecho da Rua Prado Júnior, entre a Rua Barata Ribeiro e Avenida Nossa Senhora de Copacabana, foi interditada para o trânsito. Uma faixa da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, sentido Centro, também está interditada e a perícia está no local. Dezesseis guardas organizam o trânsito na área, que continua lento.
O policiamento no bairro está reforçado.
Final do dia, eu estava indo embora... Ainda no elevador do prédio, tocou o meu celular. Era uma pessoa que estava me procurando desde ontem, mas eu não pude atender pois passei o dia em reunião. Algo sobre uma vaga numa empresa. Parêntese rápido! (Claro... agora que consegui emprego, surgem várias oportunidades). Eu saí do prédio falando ao telefone e andando rapidamente, na minha longa caminhada até o metrô. São uns 15 minutos... mas de salto alto, em calçadas de pedrinhas portuguesas, parecem uma eternidade e os últimos respiros dos saltos que se engancham no chão uma infinidade de vezes. Mas então, logo na segunda quadra, em plena Av. Nossa Senhora de Copacabana, dei de cara com um trânsito mais tumultuado que o normal, meio mundo olhando e falando e montes de policiais, carros de polícia, luzes piscando, sirenes... uma bagunça... e eu no celular. Olhei pro lado e vi lá no chão os vários corpos meio cobertos. Putz... que coisa horrível! Mas nem chocada ou assustada ou sei lá... nada senti. Só o que pensei foi: "hmm... ainda não tiraram... que droga. Tenho que sair daqui porque ainda pode ter alguma confusão."
Chega a ser estranho usar palavras de alegria quando se comenta um assunto que certamente é um problema sério do país... mas é impressionante (e esquisito) como a gente aprende a ser indiferente ao que acontece de ruim com quem não temos alguma ligação afetiva, seja pessoal ou profissional, porque é a única forma de continuar vivendo, levando a vida, morando, trabalhando, etc. E com tudo isso acontecendo tão perto de mim... eu só conseguia ficar feliz porque o dia de trabalho foi ótimo! porque no meu nono dia de trabalho eu começo a me sentir por dentro do meu trabalho! porque o meu ticket restaurante chegou e agora é um cartão magnético (coisa que nunca tinha usado)! porque almocei com uma amiga que fez pra mim uma homenagem no dia da formatura da faculdade, mas que eu não via há uns dois anos por excesso de trabalho e falta de vergonha na cara por me permitir trabalhar demais da conta! porque amanhã vou viajar para ver minha família!
Foram 2 mortos, 5 pessoas feridas... isso de acordo com uma nota divulgada pela PM, às 20h52 de hoje, publicada no Globo Online. O "assaltante" causador de todo o tumulto morreu na Av. Atlântica, 1440!!! É muito, muito perto de onde eu trabalho. O cara já tinha ficha criminal de acordo com outra notícia publicada mais cedo. E eu leio isso apenas pensando na sorte de não ter passado no meio do tiroteio, de estar a salvo em casa, de estar escrevendo no meu blog. E o mais impressionante? Ainda amo o Rio e não consigo, no fundo do coração, imaginar sair do Rio para morar em outro lugar. Talvez um dia! Talvez por um motivo que hoje não existe na minha vida! Talvez...
NOTÍCIA DO "O DIA ONLINE" - 6/4/2006 18:22:00
Dois mortos e cinco feridos em tiroteio em Copacabana
Rio - Tiroteio envolvendo policiais e um bandido na Avenida Atlântica, 1440, ao lado do Bar Flor do Lido, deixou dois mortos e cinco feridos, e provocou pânico no local. O ladrão e Antonio Carlos de Oliveira Dias, morador de Nova Iguaçu, que estava com sua esposa no bar, morreram no local. O ladrão entrou no prédio fingindo estar interessados na compra de um computador, anunciado na Internet. Subiu para o apartamento e rendeu um homem, que conseguiu escapar e chamar a polícia.
Houve troca de tiros dentro e fora do edifício. O policial Augusto Alexandre Pinheiro Junior, de 23 anos, foi baleado na cabeça dentro do prédio. O soldado Robson Leão caiu, lesionando a coluna.
O ladrão conseguiu escapar. Na fuga, conseguiu render um taxista, que teve o carro interceptado pela PM na esquina das ruas Nossa Senhora de Copabana com Prado Júnior. Houve novo tiroteio e o ladrão foi morto com cinco tiros. Outras quatro pessoas foram feridas.
O policial ferido no prédio está em estado grave no Hospital Copa DOr. O soldado também foi levado para o mesmo hospital. Outros quatro feridos por balas perdidas foram para o Hospital Miguel Couto. São eles, o garçon Bráz Arantes Dias, 62 anos, que levou um tiro na cabeça e está sendo operado; Edith Félix de Oliveira, 30 anos, com um tiro nas costas, em observação; João Medeiros, de 69 anos, que levou um tiro de raspão no peito e já foi liberado; e o morador de rua Way Gland Siqueira Cândido, com um tiro na perna.
Por volta das 17h, o trecho da Rua Prado Júnior, entre a Rua Barata Ribeiro e Avenida Nossa Senhora de Copacabana, foi interditada para o trânsito. Uma faixa da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, sentido Centro, também está interditada e a perícia está no local. Dezesseis guardas organizam o trânsito na área, que continua lento.
O policiamento no bairro está reforçado.


2 Comentários:
Nossa!!! Eu não consigo ficar indiferente não. Nem quando morava ai eu conseguia. Acho um absurdo as pessoas de bem serem obrigadas a viver numa situação de guerra civil não declarada e terem que achar que está tudo normal para poderem levar suas vidas adiante. De todo jeito, fico tranquila de ver que está tudo bem com você. Só ficamos sabendo dessa confusão agora de manhã. Mas conversamos mais depois. Te esperamos amanhã. Bjs.
O sentimento que mais sobressai em mim é o medo. Medo de que isso nunca tenha fim.
Um beijo pra você.
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